Será que o controle da obesidade infantil não pode ser mais divertido?


Com o crescimento da obesidade pelo mundo e o conhecimento de seus impactos na saúde e na autoestima das crianças, muitos pais acreditam que precisam falar sobre excesso de peso e restrição alimentar com seus filhos. No entanto, essa não parece ser a melhor estratégia para engajar os mais novinhos a ter um estilo de vida saudável.

A família tem papel fundamental no combate à obesidade infantil, mas o discurso e os alertas sobre o peso, bem como a proibição de certos alimentos, se mostram medidas contraproducentes. Pior: elas ainda estão associadas ao desenvolvimento de transtornos alimentares, caso haja suscetibilidade.

Pare para pensar: se pedirmos para você não pensar em uma maçã, o que lhe vem à cabeça? A mesma lógica se aplica à restrição de guloseimas e afins para as crianças.

Há outro caminho, bem mais efetivo. E se a dieta dos pequenos fosse pautada pela inclusão de novos alimentos e novas receitas e na participação ativa dos pais em todo o processo? E se eles se comprometessem a escolher melhor a comida que entra em casa, a preparar lanches bacanas e equilibrados e a realizar mais refeições em família?

Para que essa proposta funcione, devo destacar quatro mensagens:

1- Se a criança está acima do peso, precisa de acompanhamento e tratamento. Quanto antes, melhor. Muitas doenças associadas à obesidade já aparecem na infância. Falamos de diabetes, pressão alta, gordura no fígado, problemas osteoarticulares… Sem contar que é grande a probabilidade de uma criança com excesso de peso se manter assim na vida adulta, especialmente se não emagrecer até a puberdade.

2- Falar sobre dieta, peso e restrições traz impactos negativos que podem atravessar gerações. Um estudo recente investigou o efeito do discurso dos pais acerca do peso e da alimentação na próxima geração e constatou que os adolescentes que receberam encorajamento para fazer dieta transmitiram a mesma mensagem para seus filhos 15 anos mais tarde. Além de endossar regimes restritivos, esses pais reclamavam sobre a própria imagem corporal na frente dos familiares.

3- Para cuidar de uma criança com sobrepeso ou obesidade, é preciso que o profissional de saúde e os pais estejam cientes de que esse é um processo de aprendizagem, que ocorre em longo prazo e tem o objetivo de incorporar novos hábitos. O comportamento alimentar é estabelecido nos primeiros anos e repercute ao longo de toda a vida. Sempre é hora de mudar, mas, de novo, quanto antes isso acontecer, melhor.

4- A disponibilidade de alimentos saudáveis, a companhia durante as refeições, o local e o número de refeições diárias… Todos esses pontos interferem nas escolhas alimentares da criança. E a família tem papel fundamental em cada uma dessas etapas.

Com essas premissas, partilho a minha crença de que podemos conduzir o tratamento da obesidade infantil com mais leveza. Gosto de citar as pesquisas que sugerem que comer em família confere proteção contra o excesso de peso.

Em um desses programas de intervenção que incentivavam o aumento no número de refeições em família, as crianças apresentaram redução do peso, além de diminuição do tempo de sedentarismo e gasto em frente às telas. Dentre as atividades propostas, os pequenos voluntários relataram que cozinhar com a família, testar novas receitas e receber dicas de culinária foram as experiências mais divertidas.

Vamos juntos numa abordagem mais positiva? Dá trabalho, mas podemos pensar em estratégias para contornar a falta de tempo, barreira mais citada nas pesquisas que avaliam o engajamento familiar. Fazer mais refeições com os filhos e envolver a criança em alguma etapa do preparo são atitudes simples que já trazem resultados satisfatórios.

* Dra. Mariana Del Bosco é nutricionista e expert em obesidade infantil

Fonte: Saúde Abril

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